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Cadê o nome do autor?

De quem é a culpa? Creio que tal erro aconteceu porque existe um senso comum brasileiro de achar que “quem canta uma música é também o autor dela”

Estive numa igreja onde a congregação cantou a música “Ao Único”. A letra estava projetada num belíssimo telão de alta definição e, sob o título da canção, estava o nome do autor: uma dessas cantoras novas, que, provavelmente, nem era nascida quando Bené Gomes compôs essa música, na década de 1980. Xiiii, que furo! Muito louvável a atitude de pesquisar na internet e colocar o nome do autor, mas lastimável ser o nome errado. Infelizmente, isso tem acontecido muito.

De quem é a culpa? Da internet? De quem postou? De quem consultou? Creio que tal erro aconteceu porque existe um senso comum brasileiro de achar que “quem canta uma música é também o autor dela”. De fato, existem muitas pessoas que interpretam suas próprias músicas, mas, estatiscamente, a “maioria” das que ouvimos é “interpretada”.

Até alguns anos atrás, tínhamos os encartes dos CDs, que revelavam os nomes dos autores. Com o advento da internet e a popularização dos vídeos e das músicas digitais, no entanto, o tal senso comum “quem canta uma música é também o autor dela” se agravou. E não podemos camuflar que “certos intérpretes”, propositadamente, nem citam os compositores, para “se passar” por autor das músicas e exaltar os próprios nomes. Isso é desonesto, juridicamente falando, e pecado, no aspecto espiritual, pois, como ensinou o apóstolo Paulo: “Dai a cada um o que lhe é devido (…). A quem honra, honra” (Rm 13:7).

Quem é leigo em música não sabe, mas não é qualquer pessoa que toca um instrumento que sabe fazer uma música. A capacidade de criar uma música é um dom dado somente a alguns. Aliás, existem pessoas que nem tocam instrumento algum e compõem excelentes canções. Existem aqueles que só escrevem letras, outros que criam só a melodia, e os que fazem as duas coisas, letra e melodia. Criar uma música é arte muito exclusiva e complexa, que exige preparo e conhecimento específico.

A norte-americana Fanny Crosby (1820-1915) foi uma das compositoras mais incríveis da história. Autora das letras de mais de 8 mil hinos, entre os quais “A Deus Demos Glória” e “Quero Estar ao Pé da Cruz”, conhecidos mundialmente, Fanny era cega e começou a compor aos 45 anos. Entre as muitas línguas para as quais foram traduzidas suas músicas, está o português. Por isso, encontramos suas obras nos hinários impressos das Igrejas históricas brasileiras.

No Brasil, existem milhares de compositores e intérpretes, cujas músicas, cada vez mais, estão sendo expostas na internet. Nesse emaranhado informacional, entretanto, é possível encontrarmos diversos autores para uma mesma música. Em alguns casos, nem as grandes empresas de música estão tendo o cuidado de colocar os nomes dos autores.

Sendo assim, cabe aos compositores verificar suas próprias músicas, se estão sendo postadas com os devidos créditos autorais. No meu caso, que sou compositor, tenho solicitado, inclusive, que meu nome conste “no vídeo”, e não somente no texto que o acompanha, pois este poderá se perder nas repostagens.

Mas também cabe aos intérpretes a “honestidade” de postarem suas interpretações registrando “claramente” os nomes dos autores. Sites que cifram músicas, por exemplo, devem ter o cuidado de destacar e diferenciar quem é o autor e quem é o intérprete. E aquele que posta nas redes sociais ou confecciona slides para igrejas, por favor, antes de escrever o primeiro nome que encontrar na internet, pesquise, detalhadamente, quem é o verdadeiro autor da música. Se não encontrar, não invente, deixe em branco. É melhor! Os autores agradecem!


Atilano Muradas é jornalista, escritor e compositor

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